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ogueiros Decentes

Ainda que teus passos pareçam inúteis, vai abrindo caminhos,

como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão...

(Saint-Exupéry)



terça-feira, 7 de junho de 2011

Viajando e ouvindo...

O pescador
Litoral de Santa Catarina, a praia quase deserta perto do final da manhã de junho, três ou quatro esportistas enfrentando o vento ainda frio...
Em um ponto de observação um pescador, que não aparenta fisicamente os 65 anos que já viveu, com lucidez inigualável (descubro com a conversa) de causar arrependimento aos que elegem muitos dos parlamentares que temos no Brasil.
Aliás, penso... “por quê”... ser humano tão simples, mas tão lúcido, tão digno e tão responsável não estava em Brasília representando o povo simples nem sempre tão... lúcido.
E a conclusão óbvia:
Há sabedoria em muitos que não conseguiram estudar...
Não há, apenas, a esperteza de alguns que não quiseram!

Enquanto me protejo do frio, bem agasalhado, presto mais atenção na figura, em seus pés descalços, que mais pareciam calçados, curtidos pela lida no frio, no calor e pela água do mar, pelo sal e areia ao longo de mais de 55 anos de trabalho.
Isso! De trabalho!
E não quer se aposentar!
55 anos de trabalho!
eheh... Lembro de Brasília...

Em meio ao papo sobre a vida, com a devida atenção, respeito e consideração à conversa, mas sem desviar os olhos do mar, atento ao movimento das tainhas (que este ano teimaram em não aparecer), confiante, mas pensando nos que tiram seu sustento da pesca, explica que os cardumes aparecem cada vez menores, com tainhas menores, porque o homem destrói a natureza e sempre há alterações no processo natural da desova.
Fala da vida e do trabalho com orgulho e noto o brilho no seu olhar e o tom de maior alegria e satisfação, quando fala dos filhos estudados.
Destaca o trabalho costumeiro nas boas condições do tempo e nas condições adversas.
De passagem... não lembro a razão, pois não vejo mais a seleção de futebol desde 1994, quando os brasileiros (indignados) assistiram pela TV, ao vivo, os acontecimentos do que ficou conhecido como o “Vôo da Muamba”. Não lembro a razão, repito, mas, de passagem, o assunto vai ao futebol e tenho agradável surpresa, mesmo com a maior simplicidade na expressão do pescador:
- Esses políticos vão enfiar mais de um “bilhão” de dinheiro para jogo de futebol...
mas, antes disso, deviam passar e ver os pobres que sofrem com a falta de atendimento nos postos de saúde e nos hospitais, aqui neste município e em todos os outros municípios do Estado... E do país!
Indignado, acrescenta
- E gastam mais de num sei quantos “bilhão” prá construir estádio que vai servir prá “o que” depois...?
Faz uma pausa e ainda mais enfático, sem exaltação (que fortalece seu argumento) continua
- Se os políticos fossem lá conhecer, mesmo, posto de saúde e hospital para (deveriam) atender o pobre, e como é a dor que sofre o pobre sem atendimento...
... ninguém, DE BOA CONSCIÊNCIA, faria mais nenhum estádio até que o pobre parasse de sofrer como sofre... e poderiam resolver outros problemas das pessoas humildes... e não roubavam tanto.

Minha homenagem ao pescador (Déca) de Santa Catarina e à todos os lúcidos, honestos e dignos “Décas”, nesse Brasil de brasileiros (cada vez mais) entorpecidos com a política, com o carnaval e com o futebol...

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